Como preparar calda bordalesa

                              CONTROLO DO MÍLDIO NA HORTA E NA VINHA

Atualmente no mercado encontramos uma panóplia de produtos de maior ou menor toxicidade e eficiência, destinados há difícil tarefa de controlar o míldio. No entanto, muito antes da sua existência, já os nossos avós, de forma eficaz, utilizando uma mistura de cal e sulfato de cobre, o conseguiam fazer com sucesso. 

Esta calda, a tradicional calda bordalesa,  acaba tendo um efeito dois em um, pois além de atuar no  controlo do fungo, ela  também possui caraterísticas que contribuem para fortalecer   o sistema imunitário da planta, revitalizando-a, ficando mais resistente à doença, devido à atuação do sulfato de cobre, fertilizante mineral,  que incentiva à produção de enzimas essenciais.
Batateira com míldio

Na  difícil tarefa para controlar o míldio, prevenir, é o  mais eficaz. Depois de se instalar na planta, rapidamente a destrói e alastra à restante cultura. Nesta fase o controlo já é tarefa quase impossível, a não ser que se utilizem produtos de elevada toxicidade, com alguma eficiência,  que penetram no sistema vegetativo da planta.  Daí que o inicio do calendário  dos tratamentos preventivos, pelo mês de Abril, e cumprimento dos intervalos das aplicações,  são de enorme importância. 

Os tratamentos em condições climatéricas consideradas normais para a época,  protegem a planta por um período, cerca de 10 a 15 dias, não devendo as aplicações exceder este o intervalo .
No entanto quando as condições se agravam, mostrando-se  muito favoráveis ao desenvolvimento do fungo, tempo húmido, chuvoso,  e temperatura amena, devem-se reduzir os intervalos entre cada aplicação para 8...10 dias. 

Muitos de vós só iniciam os tratamentos quando se apercebem que algo não está bem com as plantas, por essa altura já pouco ou nada haverá a fazer. Os tratamentos preventivos são a forma mais eficaz para controlar o míldio. 
                                     
                                             CALDA BORDALESA

 Esta solução, com propriedades fungicida, parece ter sido descoberta no século XIX  por um agricultor, ao caiar as uvas, na proximidade da estrada, para que não as roubassem, começando a observar que ao contrario das restantes, elas não eram afetadas por moléstias, como o míldio.
Entretanto um investigador concluiu que se devia ao facto da cal ser preparada num pote de cobre, originando uma reação química que lhe acrescentava o sulfato de cobre.

Na verdade a cal desde há muito que é reconhecida pelas suas propriedades fungicida, quer na caiação de edifícios, impedindo desenvolvimento de bolores,  quer na conservação de madeira.

No mercado encontramos um produto industrial denominado calda bordalesa a que basta adicionar água. No entanto a eficiência que lhe reconheço e que ano apos ano venho constatando, tem sido obtida a partir do preparado artesanal, tal como vi os meus  pais e avós fazer.  Acredito que os seus benefícios estarão diretamente relacionados com esse método de preparação.


                                                 
                                   
                                                    PREPARAÇÃO
                                             - para 100 litros de calda  -


Não existem dados científicos que indiquem com exatidão, as quantidades a utilizar na preparação desta calda, as opiniões divergem um pouco.


Importa saber que a calda não pode ficar nem demasiado ácida, tóxica para as plantas, nem demasiado alcalina, de igual modo toxica, e sem eficácia.
Na verdade o Ph, deve situar-se entre 6,5…7, máximo 8, sendo a maior ou menor adição de cal que o fará oscilar, pelo que o mais correto será adquirir uma "carteira" de tiras de papel teste, que reagem revelando uma determinada cor, consoante seja acido ou alcalino,  ou um aparelho medidor de Ph .
No caso das tiras, mergulha-se na solução durante alguns instantes e aguarda-se dois ou três minutos, verificar o resultado, se for a baixo de 6, estará acida, adiciona-se então com cuidado um pouco mais de cal, mexe-se bem e volta-se a verificar. Se for o contrario, 10...11...12 , estará alcalina, sendo necessário adicionar mais algum sulfato de cobre o que se deve fazer com cuidado, sempre em pequenas quantidades,  e medindo de seguida, até obter o valor desejável ou o mais aproximado possível. 





O Sulfato de cobre, apresenta-se sob o aspeto  de cristal, em pedra, refletindo um azul celeste.

No mercado encontramos sulfato de cobre em pedra, ou moído, a diferença consiste nisso mesmo, um está em pedra outro a pedra foi moída, este ultimo tem como vantagem dissolver mais facilmente. Alem destas pode-se ainda encontrar com uma outra apresentação, com uma moagem mais fina, e já sujeito a um processo de hidratação, permitindo que dissolva rapidamente, bastando adicionar água, muito utilizado como fertilizante, na falta do anterior  o comerciante vai tentar vender este com o argumento de que é igual, não é. Procurem sempre utilizar o sulfato em pedra, puro,  ou moído.

Em pedra ou moído, para o podermos utilizar temos de o dissolver, e isso demora várias horas. 
Para o diluir coloca-se a quantidade desejada dentro de um saco de pano, poroso, ou sobre um pedaço de pano, atando com um cordel, formando uma "boneca", e em seguida, coloca-se em suspensão dentro de um balde de plástico, com água morna (facilita o processo) de modo a que não fique apoiado, em contacto com o fundo, durante 24 horas, mais ou menos.  A quantidade de água a utilizar têm a ver com a quantidade de sulfato que pretendemos dissolver . Para um quilo, devemos ter no balde cerca de 4 litros de água,   normalmente é suficiente, quando a água é pouca, ele acaba por não se dissolver na totalidade, pois ela atingiu a concentração máxima, quando isso acontece temos de acrescentar mais um pouco de agua e esperar mais algumas horas. 

Depois de dissolvido,  pode-se guardar num num garrafão de plástico durante vários meses...um ano,  para se ir utilizando. 
A quantidade a dissolver depende das necessidades de cada um , um quilo dissolvido, permite preparar 80 a 100 litros de calda. 


Mas se por exemplo, a intenção é fazer apenas 10 litros de cada vez, para nos facilitar na dosagem a utilizar, podemos medir e dividir por dez, marcando no garrafão, com marcador preto, traços, correspondentes a dez partes iguais, utilizando depois cada uma delas para preparar os dez litros. 
Se pretendermos fazer cinquenta litros, utilizamos cinco partes, e assim  sucessivamente.


O outro ingrediente necessário para podermos preparar a calda bordalesa é a cal. A cal a utilizar será a cal viva, cal utilizada para caiar. Outros tipos de cal há , mas para nós apenas esta interessa. 
Tal como o sulfato, vamos encontrá-la em pedra ou mais frequentemente em pó, já moída. Importa que seja cal viva, e não outra que vos possam tentar vender,  esta designação está sempre visível no pacote, normalmente de 5 kg.   
Há semelhança do sulfato também a cal, antes de a podermos utilizar, terá de passar por um processo de transformação, hidratação, conhecido como "derregar" ou "apagar".  


Vamos então derregar a cal. E mais uma vez consoante a necessidade assim vamos dosear a quantidade a derregar, normalmente utilizo 2 kg, no final, depois de arrefecer  pode-se guardar em garrafões para ir utilizando. 
Num recipiente de barro ou metal, (se for de plástico, derrete com o calor libertado) vamos colocar a cal viva em pó ou em pedra. Depois com cuidado, adicionamos um pouco de água sem cobrir totalmente a cal, e aguardamos alguns instantes.
Passados alguns instantes, um, dois minutos,  começamos a observar o inicio da reação, começa   a libertar algum fumo, comportando-se como se estivesse a ferver.
Em simultâneo consoante a reação se vai mostrando mais ativa a água irá desparecendo, pelo que com cuidado e sem exagerar se deve ir repondo, mexendo também pontualmente um pouco, com uma vara, para que nos possamos manter um pouco afastados,  com movimentos lentos, de modo a facilitar o processo. Deve-se utilizar óculos de proteção e luvas adequadas, e ter muito cuidado, pois são projetados salpicos a uma temperatura que ronda os 300 graus, pelo que não se deve aproximar demasiado o rosto.






Quanto maior for a quantidade de cal  , maior será dinâmica da reação e o modo como se manifesta.

Passados alguns minutos verificamos que vai ficando mais "tranquila" vai deixando de borbulhar, de fumegar, indicio que o processo se aproxima da fase final. Vamos então mexendo e em simultâneo adicionando mais um pouco de água, com cuidado para não ser em exagero, de modo a que não fique nem demasiado pastosa, nem demasiado liquida, mas sim com uma consistência de leite condensado. Quando obtivermos a consistência desejada é só aguardar algum tempo para que arrefeça e depois guardarmos , em garrafões de plástico por exemplo, ou outros. 
Nos garrafões podemos fazer como fizemos com o sulfato, dividir em dez partes iguais, ou vinte, consoante tenhamos utilizado um quilo ou dois de cal. 

Resumidamente, teoricamente, um quilo de sulfato e um quilo de cal, dá para preparar cerca de 100 litros de calda, ou 10 litros, usando uma décima parte de cada. No entanto quase sempre é necessário corrigir o Ph , vindo-se a constatar que ao utilizarmos uma décima parte do leite de cal obtido com a dissolução de 1 quilo de cal em pó ou em pedra, ou a vigésima parte se utilizámos 2kg, vamos ter que utilizar não uma decima parte (meio litro, 0,50 cl) do sulfato que temos dissolvido no garrafão de 5 litros (1 quilo) mas sim uma décima parte e mais metade de outra, ou seja 0,75 cl. para obter o Ph desejado. 
Na pratica será isto, meio litro de leite de cal com densidade de leite condensado para 0,75 cl de sulfato de cobre , para fazermos  dez litros de calda . 







Na preparação da calda, colocamos sempre em primeiro lugar a cal, adicionando depois lentamente o sulfato, ( diz o povo, " ele por cima d´ela" ) mexendo lentamente durante alguns minutos, adicionando-a depois à quantidade de  água desejada, mexendo sempre. Se for para preparar grandes quantidades, utilizando por exemplo uma barrica,  também podemos adicionar de imediato a quantidade de água desejável. 

A aplicação deve ser feita, no máximo, até ao limite de 24 horas, de preferência pela manhã, ou com tempo fresco, ou final do dia.






Ao colocar a calda no pulverizador, devemos utilizar um crivo de malha fina, pois há sempre a presença de alguns resíduos sólidos que depois o vão entupir.

Se parar-mos de mexer a calda bordalesa, ao fim de alguns instantes, a parte sólida em suspensão, começa a depositar no fundo, onde se acumulam grânulos de sulfato, pelo que é necessário manter  a agitação da calda.

Não encher a totalidade do pulverizador, quando no dorso, facilita esse processo, fazendo-o oscilar de um lado para o outro, de vez em quando, agitando a calda.

Quando utilizamos um deposito para fazer calda para várias aplicações, durante o tempo em que estivermos a pulverizar, a calda em repouso, vai permitindo a formação dos pequenos grânulos no fundo do depósito, pelo que se deve mexer com uma vara antes de cada enchimento, para que os mesmos se dissolvam, podendo se necessário, ser introduzidos diretamente para dentro do pulverizador, retirando o crivo, agitando depois. 

Entre cada aplicação, deve-se passar o pulverizador com água limpa, bombeando um pouco, para evitar acumulação de resíduos no interior da tubagem que vão provocar entupimento.


A aplicação da calda, deverá ser feita no máximo de quinze em quinze dias. Em períodos de risco elevado, deve-se reduzir para oito, dez dias, pulverizando bem a planta com a solução.
Se a opção for um produto comercial, pode-se juntar um pouco de enxofre, duas colheres de sopa, por cada dez litros de água, a aplicação também deve ser feita aproveitando a frescura da manhã, ou ao entardecer.


Para a preparação da calda, num recipiente à parte, dissolve-se bem os produtos a utilizar. No pulverizador coloca-se parte da agua, depois junta-se a solução  dissolvida, e depois o resto da água, e misturando-se bem com uma pequena vara. 

17 comentários:

  1. vejam o que sao produtos de qualidade

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  2. Excelente explicação de elaborar o produto e sua aplicação!

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  3. Aprendam a ter uma conduta agricola que respeite a biodiversidade e a saúde de cada um. O milráz é um produto altamente tóxico, mas claro, o poder da bayer tem sido suficiente para fazer querer que é um produto seguro. Ainda assim parece que vai ser proibido, para bem de todos!
    http://agriculturaemar.com/fungicidas-propinebe-venda-proibida-partir-22-junho-2018/

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    1. O problema é que proíbem a aplicação desses produtos cá mas deixam entrar alimentos importados mais baratos mas que levam tratamentos químicos 10 vezes piores

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    2. e dar uma alternativa biologica para ajudar a malta?

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  4. Uma pequena correcção: O hidróxido de cálcio é uma base que serve para neutralizar algo que é ácido. Onde se lê: "Se o resultado for acima de 8, junta-se mais cal" o acima de oito deve ler-se "abaixo de 6". Não entrando em justificações numéricas (concentração de hidrogeniões)as substâncias ácidas têm PH abaixo de 7 e as alcaninas acima de 7.

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  5. Bom dia Carlos Rodrigues,grato pela correção.Um abraço.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. a clareza da descrição nunca deve ser descuidada
    grato pelo trabalho- amigo--não se canse nunca--nunca

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  8. Se ficar muito alcalino, poderá queimar as batateiras?
    Muito obrigado pela resposta,
    Juvenal Alves

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  9. Sim. Se ficar muito alcalino queima as batatas ou tomateiros. No entanto utilizando a proporção de 1.300 kg de cal para um 1kg de sulfato de cobre, sem medir o PH, pode aplicar, não corre esse risco.

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  10. Gostei da explicação.

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  11. Parabéns, excelente artigo para inexperientes como eu, só não percebe quem não quer. Ao ler os métodos de preparação, veio-me à memória o que o meu pai fazia à dezenas de anos e hoje percebi o motivo
    Obrigado

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